É comum assumir-se que o sono adequado e suficiente depende do cumprimento de horários. É menos frequente o reconhecimento de que a falta de rotinas afecta, não só o sono, mas muitos outros parâmetros fisiológicos cuja optimização depende de uma hora certa. De facto, existem relógios dentro de nós. Definem horas, minutos e segundos no nosso meio interno e consequentemente nas nossas vidas. É por eles existirem que o nosso coração bate cerca de 60 a 70 vezes em cada minuto e que inspiramos e expiramos a um ritmo aproximado de 15 vezes por minuto, se formos saudáveis. É pela mesma razão que acalmamos os ânimos em cada 90 minutos, definindo um ritmo de actividade e repouso com o mesmo período de tempo e é graças aos relógios que temos cá dentro que, em cada um de nós, há um tempo certo para estarmos mais atentos, mais despertos, com maior capacidade de memória e foco, com mais fome, etc. Só que estes ritmos dependem de uma sincronização constante, o que é conseguido através de um relógio mestre que os afina. Este relógio, localizado no nosso cérebro, numa região conhecida por hipotálamo, é aquele que acerta directamente o ritmo sono-vigília, e que nos mantém sincronizados com o ambiente externo, através da luz (o sol é na realidade “a mão que nos dá a corda” todos os dias). Por sua vez, o próprio relógio, para além de ser influenciado por hábitos, por rotinas e pela luz, é também afectado pelo sono. Imagine-se um maestro (o relógio mestre) que dirige uma orquestra (relógios periféricos). É óbvio que se o maestro conduzir mal a orquestra, pode perder-se a harmonia do conjunto. Também não é difícil adivinhar que se algum dos elementos da orquestra tocar de forma independente no meio de uma melodia concertada pode afectar o maestro e consequentemente os restantes elementos, e que quanto mais destes estiverem dessincronizados, maior será o ruído. É este o principio que dita a necessidade de implementarmos rotinas, de dormirmos a horas regulares, de respeitarmos horários de refeição e cumprirmos os diversos padrões comportamentais que, pesem as características individuais, são apanágio da nossa espécie. É que o desconcerto da orquestra biológica, pode causar mais problemas que um ruído no meio da música… a disfunção cardiovascular e endocrino-metabólica com um maior risco de hipertensão arterial ou diabetes são algumas das consequências. Alterações cognitivas, associadas a dificuldade na aprendizagem ou á manutenção de um equilíbrio emocional podem ser outros exemplos de motivos que nos ajudam a compreender o quão importante é preservar o nosso tempo interno, a manter as rotinas e a dormir bem e no momento adequado.